Poemas I
FELICIDADE RÚSTICA
É bem feliz, por certo, o que somente
Ao rústico lavor acostumado
Conduzir sabe os bois, reger o arado
E dar à terra a próvida semente.
A arte de a lavrar sempre inocente
Estuda só, e ignora afortunado
As novas leis, as máximas do Estado,
E os documentos de enganar a gente.
Projectos vãos não forma, e sempre isento
Da soberba ambição, nunca a Lisboa
Foi dobrar o joelho ao valimento.
Cabana humilde, onde nasceu, povoa;
E seguro no próprio abatimento,
Só tem medo do céu, quando trovoa.
VIDA ALDEÃ
Depois que nesta aldeia no retiro
A vide podo, enxerto o catap'reiro,
Cultivo o meu casal, e do ribeiro
Eu mesmo as águas para o campo tiro;
Depois que a recolher somente aspiro
Do meu trabalho o fruto verdadeiro,
Outros bens não pretendo, e deste outeiro
Ao mundo enganador as costas viro.
Procure-os quem quiser e diligente
Para os lograr o mercador ousado
Travesse o mar e outras nações frequente;
Às costas passe; e em tudo afortunado
Títulos compre ilustres; que eu contente
Sem eles vivo aqui, mas sossegado.