terça-feira, outubro 30, 2012

Chove!

 Este já tinha sido postado em Novembro de 2009, mas gosto muito para deixar na gaveta.... e neste momento chove tanto que merece este poema!

NOITES DE CHUVA

Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças
Se tu amas no Outono - já sem rosas -
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noites glaciais e pluviosas!...

Nessas noites sem luz que - visionários -
Temos quimeras místicas, celestes,
E cismamos nos pobres solitários
Que tiritam debaixo dos ciprestes!...

Que evocamos os lírios passados,
As quimeras e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes e olvidados,
E os mortos corações sob as raízes!...

Nessas noites, meu bem, em que desfeito
Cai o frio granizo nas estradas
E tanto apraz, sonhando, sobre o leito,
Ouvir a longa chuva nas calçadas!...

Nessas noites eléctricas, nervosas,
Todas cheias de aromas outonais,
Que a tristeza tem formas monstruosas,
Como, num sonho, os pórticos claustrais.

Noites só em que o sábio acha prazeres,
- Tão ignorados dos cruéis profanos! -
E em que as nervosas, místicas mulheres,
Desfalecem, chorando, nos planos.

Nessas noites, meu bem! É que os poetas
Têm às vezes seus sonhos mais brilhantes,
Folheiam suas obras predilectas...
- E evocam rostos... e visões distantes!

Gomes Leal