Há textos e textos.... Sempre fui muito apreciadora da leitura, seja fabulada ou verídica. Deixo aqui uma carta que MEC escreveu, na sequência da operação que a mulher fez a um tumor alojado no cérebro e o comentário feito por Tiago Cavaco à mesma. A leitura da primeira deixa-nos inquietos e quiçá pouco à vontade, em virtude da abordagem crua e directa e após as últimas crónicas terem mostrado um autor quebrado, apaixonado pela mulher, pela vida, uma escrita emocionada. A leitura da segunda faz-me exclamar "pois!", porque ao ler a primeira faltaram-me as palavras para poder opinar sobre ela, mas no fundo conseguia compreendê-la, sem ainda conseguir formular o discurso.
“Deus,
Bem avisaste que eras um Deus invejoso e vingativo. Também sei que Job
era um caso-limite: uma ameaça do que eras capaz. Nem eu nem a Maria
João temos um milésimo da obediência e da resignação de Job. E
castigaste-nos menos. Mas foi de mais.
De certeza absoluta que nos amamos mais um ao outro do que te amamos a
Ti. Sabemos que isto não está certo. Mas foste Tu que nos fizeste assim.
Admite: deste-nos liberdade de mais. Foste presunçoso: pensaste que Te
escolheríamos sempre primeiro. Enganaste-Te. Quando inventaste o amor,
esqueceste-Te de que seria mais popular entre os seres humanos do que
entre os seres humanos e Tu. Por uma questão de tangibilidade. E,
desculpa lá, de feitio. Tu, Deus, tens o pior das arrogâncias feminina e
masculina. Achas que só existes Tu. Como Deus, até é capaz de ser
verdade. Mas, para quereres ser um Deus real e humanamente amado, tens
de aprender a ser um amor secundário. Sabemos que és Tu que mandas e
acreditamos que há uma razão para tudo o que fazes, mesmo quando toda a
gente se lixa, porque não nos deste cabeça para Te compreender. Esta
deficiência foi uma decisão tua: não quiseste dar-nos a inteligência
necessária.
Mas deste-nos cabeça suficiente para Te dizer, cara a cara, que nos
preocupamos mais com os entes amados do que contigo. Ajuda a Maria João,
se puderes.
Se não puderes, não dificultes a vida a quem pode ajudar. Faz o que só
um Deus pode fazer: reduz-te à tua significância. Que é tão grande". (MEC)
«...esta semana trouxe (...) relatos preciosos sobre a nossa condição humana
mais básica. É compreensível que as pessoas que se tenham emocionado com
o texto do Miguel Esteves Cardoso de segunda-feira não reajam com o
mesmo à-vontade ao de (...) quinta. Uma coisa é a dor, outra coisa é tratar da dor com Deus. No meio da
heterodoxia da carta do MEC a Deus há uma compreensão assombrosa e
certeira daquilo que Ele é e que, por consequência, pede de nós. O
Miguel entendeu perfeitamente o Deus da Bíblia que espera que O amemos e
louvemos acima de todas as coisas. Vejo no Miguel aquela mistura
complicada de rebeldia e submissão que faz parte da história de qualquer
verdadeiro adorador (as personagens bíblicas com mais intimidade com
Deus previamente lutaram com Ele). Como cristão sinto que a disciplina
mais indicada nestas ocasiões é "chorar com os que choram" e a oração....» (TC)
Este post não é para "copy paste", é apenas para ler e meditar....