muitos retalhos

sexta-feira, julho 20, 2012

Estado de sítio

Ouço ao longe um barulho, que me parece ser o de um helicóptero e automaticamente a minha apreensão vai para os incêndios. Estive 2 dias fora de Ponte de Sor. O suficiente para acontecer incêndios aqui na zona e para me consternar perante a morte de José Hermano Saraiva (tudo o que se possa dizer será sempre pouco acerca de tamanho vulto).....

Hoje regressei ao trabalho com uma actividade na barragem do Maranhão, o que automaticamente significaria uma viagem de Ponte de Sor a Avis. Desconhecedora da dimensão das coisas, lá fui de espírito leve viagem fora. Questionei os meus companheiros acerca dos tão falados fogos. Descontei algum exagero da parte deles à medida que ia ouvindo. Foi então que tudo mudou. Foi então que de repente a paisagem perdeu o verde e vejo-me rodeada de um cinzento fúnebre, de uma natureza morta (na verdadeira acepção da expressão). Aqui e ali alguns montículos ainda fumegavam. Fez-se silêncio. Ouviram-se lamentos. Num pequeno povoado, o fogo chegou às casas. Piquetes de bombeiros de Sobral de Monte Agraço, Sousel, Arruda dos Vinhos, Proença -a-Nova, Fronteira impunham o respeito e mereciam o nosso olhar de admiração. Ali estavam a vigiar aquela zona decrépita e fantasmagórica. Continuámos a nossa viagem, até o verde ganhar de novo o seu espaço.

O regresso voltou a fazer-se silencioso naquela zona. Pela rede social deambulam homenagens aos homens que enfrentam as chamas, fotos, pedidos de cooperação em termos de géneros alimentícios, protestos contra políticas..... o que sei é que me doeu muito ver aquele cenário bem real. Imaginar o momento em que, debaixo deste calor tórrido, os homens teriam combatido aquele incêndio foi sufocante.

Nestas alturas, a sede de justiça vem ao de cima. O desejo de ver a punição efectiva e eficaz em quem fez. Por vezes, assiste-se a uma sede de justiça desmesurada, mas, dada a revolta que cria no coração, não se poderia dizer totalmente despropositada.

Custa tanto ver o nosso país assim. Custa ainda mais quando é a nossa terra, a nossa paisagem quotidiana, aquilo que faz parte da nossa história.



Entretanto, na rede social apercebo-me que ao sul, outro incêndio de grande proporções destruiu por completo uma zona que há muito sonhava conhecer e ainda não tinha tido oportunidade: Pego do Inferno, em Tavira. Era uma cascata paradisíaca. Era....

segunda-feira, julho 02, 2012

Dissertar sobre o ABS

O ABS tem muito significado para muita gente. Muitos pelo contexto espiritual, muitos pela natureza que o envolve, muitos por histórias (amorosas) ali começadas......Tem-me apetecido dissertar sobre os "arrepios" que aquele lugar provoca.
ABS = sensação estranha. É tão estranho ir ao ABS quando não está ninguém no local, quando tudo está fechado. Aquele lugar foi feito para ter pessoas, para se viver histórias. Aquele sítio tem significado em sociedade ( a que o ocupa durante um certo tempo)
ABS = sensação ruim. Quando ficamos para últimos. Gostamos sempre de não ser os primeiros a partir, mas ficar para último, fechar o edifício é algo que, no momento, gostaria de não se viver.
ABS = sensação letárgica. Quando ficamos em dois turnos seguidos. Aquele momento entre turnos. A despedida de uns, o intermédio onde se deambula por ali e se aguarda a chegada conta-gotas dos próximos...
ABS = sensação prazeirosa. Quando andamos a limpar, a preparar o espaço para algo. A eminência de semanas boas e atractivas que ainda se aproximam.
ABS = sensação inquieta. Quando chegamos depois de todos, quiçá dias depois. Quando chegamos a meio de uma refeição.
ABS = multidão de sensações (por norma positivas). Quando começa a semana, durante e quando termina.

Muito haverá para dizer...  por agora, fico por aqui.

I love ABS!!!!



PS: particularidades..... depois há pequenos detalhes como o som do vento nos pinheiros; o cheiro dos quartos, que me embala e me faz sentir em casa; as vozes no final do dia e aquela sensação boa de "moro aqui, hoje não vou embora" (estou a fugir às noites estreladas, porque essas deixam-me sem fôlego)